Principais Dúvidas

Principais Dúvidas

1 – O que é o Mieloma Múltiplo? (Definição)

O Mieloma Múltiplo (MM) é uma doença em que há um aumento de plasmócitos anormais na medula óssea, que é o mais frequente, ou em sítios fora da medula, isto é, extramedulares1.

Normalmente os plasmócitos na medula são em pequeno número (menos de 5%), mas no Mieloma Múltiplo estes aumentam, de forma não controlada, e vão infiltrar a medula óssea. São eles os responsáveis pelo aumento da produção das imunoglobulinas. É por isso que nas análises ao sangue se vai detectar um aumento das proteínas. Quando se fazem análises, pode ver-se na electroforese das proteínas uma onda em pico designada onda M (de monoclonal), que pode levar a suspeitar da doença.

A esta proteína M podem associar-se-se outras manifestações clínicas como as lesões dos ossos (osteolíticas), a anemia, a insuficiência renal ou as provocadas pelo cálcio aumentado no sangue (hipercalcemia).
Nalguns casos mais raros, parte dessas proteínas, as cadeias leves, são eliminadas em grande quantidade pela urina, e não existe onda M no sangue. Esta patologia chama-se Doença das Cadeias Leves (ou Doença de Bence Jones) e sobre ela falaremos mais à frente.

 

2- O que é o plasmócito

O plasmócito é uma célula, da família dos linfócitos, isto é, um dos tipos dos glóbulos brancos. Tem a seu cargo a função de produzir umas proteínas especiais, que são as imunoglobulinas, mas também tem outras funções: é o plasmócito que produz uma citocina (cito de célula e cina “movimento”) que se chama Factor Activador dos Osteoclastos (FAO), que vai activar os osteoclastos, que são células do osso, causando lesões localizadas do osso.

No Mieloma Múltiplo o plasmócito transforma-se numa célula anormal, que se divide e faz cópias de si própria. Estas por suas vezes podem dividir-se várias vezes para produzirem mais células anormais, que são as células do mieloma. Quando se acumulam na medula óssea, que é o seu local de produção, vai provocar lesões ósseas.

Por outro lado como produzem imunoglobulinas anormais e em maior quantidade esta vão entrar em circulação e podem provocar alterações, por exemplo neurológicas , ou quando passam para o rim, lesões renais.

 

3 – Quem são as pessoas mais atingidas por esta doença?

O Mieloma Múltiplo atinge mais os homens do que as mulheres, embora a diferença não seja muito significativa (1.4:1). É também mais frequente nos indivíduos de raça negra2.

A doença ocorre mais frequentemente entre os 50 e os 70 anos, com um pico de incidência entre os 60 e os 65 anos. Apenas em 3% dos casos o doente tem idade inferior a 40 anos.

 

4 – Porque me apareceu esta doença?

Não se sabe porque aparece a doença. É provável que existam vários factores que se vão adicionando. Podem existir alguns factores genéticos que tornem o doente mais susceptível ao aparecimento da doença.
Foram identificados vários factores de risco, mas não se sabe como é que eles contribuem para a doença. De entre eles mencionamos a exposição a alguns agentes ambientais, como substâncias tóxicas derivadas dos hidrocarbonetos, alguns agentes químicos como o benzeno e os pesticidas e herbicidas3.

Alguns consideram que a exposição a substâncias radioactivas pode levar ao aumento de incidência da doença4. Esta última afirmação é, contudo, controversa.

No entanto, na maioria dos doentes não se encontra nenhuma exposição a tóxicos ou a qualquer tipo de estimulação antigénica crónica.

Por vezes, numa família há vários doentes com Mieloma Múltiplo, ou doenças semelhantes como a gamapatia monoclonal, mas não há provas de que se trate de uma doença hereditária5.

 

5 – Como se manifesta o Mieloma Múltiplo?

Muitas vezes, não há qualquer sintoma quando se diagnostica esta doença. Ao fazer análises de rotina podem encontrar-se anomalias que façam pensar no diagnóstico. Quando o diagnóstico se confirma, diz-se que o doente está em “fase assintomática”.

Outras vezes, o doente refere cansaço, e as análises mostram existir uma anemia. O estudo dessa anemia pode levar ao diagnóstico.

Pode também acontecer que o doente tenha uma infecção respiratória mais grave, uma pneumonia, por exemplo. Este pode ser o primeiro sintoma. Quando o doente faz análises encontram-se alterações sugestivas desta patologia.

Uma insuficiência renal de aparecimento súbito leva o médico a pedir-lhe análises de sangue e urina. São também as alterações encontradas que orientam na pista desta doença.

Por vezes, são as dores ósseas intensas e prolongadas que levam à realização de radiografias. Nesses exames, encontram-se alterações que desencadeiam a investigação do Mieloma.

Vemos, assim, que não há um sintoma único, mas vários, que podem ser as manifestações iniciais da doença. Aliás, o que caracteriza esta doença é a diversidade de sintomas, tanto na fase inicial como depois na evolução. Pode dizer-se que o Mieloma Múltiplo não é uma doença, mas várias, e alguns doentes têm mais anemia, outros têm mais lesões ósseas, enquanto outros têm sobretudo alterações nas análises laboratoriais.

 

6 – Como se diagnostica esta doença?

Quando se suspeita desta doença, e se quer confirmar o diagnóstico, fazem-se análises ao sangue e à urina para provar a existência do aumento das proteínas de que falámos, as imunoglobulinas, ou de parte delas, as cadeias leves. Uma parte das cadeias leves, as cadeias leves livres (Freelite®) são importantes no diagnóstico, na monitorização e na avaliação da resposta à terapêutica nos vários tipos de Mieloma Múltiplo.

Deve ser feito um exame à medula óssea, com mielograma, isto é, uma punção aspirativa da medula óssea e, eventualmente, uma biopsia óssea. Com o sangue da medula óssea podem também efectuar-se alguns estudos, como a imunofenotipagem e os estudos citogenéticos. Estes últimos são sobretudo importantes porque permitem identificar anomalias que têm significado prognóstico.

É também necessário fazer várias radiografias aos ossos para excluir, ou confirmar, que existe doença óssea.

Alguns doentes têm uma única localização da doença, pelo que se diz que têm um Plasmocitoma Solitário. Esta lesão localiza-se mais frequentemente num osso, mas em casos mais raros pode surgir noutro local. São os chamados Plasmocitomas Extra-Medulares.

Em qualquer dos casos é necessário fazer uma biopsia desse local para termos a certeza deste diagnóstico.

Estes são os exames fundamentais, mas há outros que podem ser necessários, de acordo com a forma de apresentação, como acontece com a Tomografia Axial Computorizada (TAC) ou a Ressonância Nuclear Magnética (RNM), com especial indicação quando se suspeita de doença da coluna cervical, dorsal ou lombar. Outros exames, como a biopsia da gordura abdominal, para excluir amiloidose, podem também ser úteis.

O seu médico poderá basear-se para o diagnóstico nos critérios do International Myeloma Working Group e decidirá, de acordo com a sua situação clínica, quais os exames que são indispensáveis.

 

1 McKenna RW, Kyle RA, Kuehl WM, Grogan TM, Harris NL, Couplan RW. Plasma cell neoplasms. In: Swedlow SH, Campo E, Harris NL, et al, editors. WHO Classification of tumors of haematopoietic and lymphoid tissues. Lyon, France: International Agency for Research on Cancer; 2008.
2 Ries LAG, Melbert D, Krapcho M, et al. eds. SEER Cancer Statistics Review, 1975-2004. Bethesda, Md: National Cancer Institute; 2007.
3 Risk of multiple myeloma and monoclonal gammopathy of undetermined significance among white and black male United States veterans with prior autoimmune, infectious, inflammatory, and allergic disorders. Brown LM, Gridley G, Check D, Landgren O. Blood. 2008 Apr 1;111(7):3388-94.
4 A case-control study of multiple myeloma in whites: chronic antigenic stimulation, occupation, and drug use. Linet MS, Harlow SD, McLaughlin JK. Cancer Res. 1987 Jun 1;47(11):2978-81
5 Increased risk of monoclonal gammopathy in first-degree relatives of patients with multiple myeloma or monoclonal gammopathy of undetermined significance. Vachon CM, Kyle RA, Therneau TM, Foreman BJ, Larson DR, Colby CL, Phelps TK, Dispenzieri A, Kumar SK, Katzmann JA, Rajkumar SV. Blood. 2009 Jul 23;114(4):785-90.

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